domingo, 26 de fevereiro de 2012

Desenvolvimento da criança de 2 aos 3 anos



Depois do primeiro ano, existem três marcos evolutivos do desenvolvimento da criança:


- O aparecimento da marcha; 
- O início da linguagem (sobretudo a possibilidade de dizer "não"); 
- E o controlo dos esfíncteres, que representa a possibilidade de entre os 2 e os 3 anos prescindir-se do uso de fraldas. 



Com a aprendizagem da marcha e da linguagem, a criança adquire, de forma progressiva, a sua independência motora, ficando muito mais apta a explorar o que a rodeia. Nesta fase, a capacidade de tolerar a distância e a ausência dos pais é maior, mas ainda não é substancial. Para que exista uma presença emocional dos pais na vida psíquica da criança, a sua presença é ainda muito necessária. 



Por esta altura, a criança começa a andar, sobe e desce escadas, vai para cima dos móveis, etc. - o equilíbrio é inicialmente bastante instável, uma vez que os músculos das pernas ainda não estão bem fortalecidos. Contudo, a partir dos 16 meses, o bebé já é capaz de caminhar e de se manter de pé em segurança, com movimentos muito mais controlados. Verifica-se igualmente uma melhoria da motricidade fina devido à prática - capacidade de segurar um objecto, manipulá-lo, passá-lo de uma mão para a outra e largá-lo deliberadamente. Por volta dos 20 meses, será capaz de transportar objetos na mão enquanto caminha. 



Após o segundo aniversário, e à medida que o seu equilíbrio e coordenação aumentam, a criança é capaz de saltar, andar ao pé-coxinho ou saltar de um pé para o outro quando está a correr ou a andar. É mais fácil manipular e utilizar objetos com as mãos, como um lápis de cor para desenhar ou uma colher para comer sozinha. 



No segundo ano de vida, a linguagem começa igualmente a desenvolver-se e, a possibilidade de dizer "não", "eu" e "meu" surge como a expressão do eu próprio em oposição ao outro. Verifica-se uma grande mudança na consciência que a criança tem de si própria. 



Após os 15 meses, verifica-se uma maior capacidade de compreensão das ordens impostas, inicialmente com o recurso de gestos, depois, sem os mesmos. Começa a conseguir acompanhar ordens simples, do genero "Dá-me o brinquedo". 



Uma vez que este é o período em que as crianças estão mais abertas à aprendizagem da linguagem, os adultos que falam muito com elas, que lhes leem, ensinam canções e poemas infantis (por outras palavras, que usam a linguagem para comunicar com elas) têm um efeito marcante no seu desenvolvimento linguístico. 



As inter-relações pessoais também ajudam as crianças a distinguir quais os comportamentos adequados e quais não são. À medida que o seu comportamento se torna cada vez mais complexo durante o segundo ano de vida, a criança vai aprendendo com as expressões faciais dos adultos, com o seu tom de voz, gestos e palavras, quais os tipos de comportamento que geram aprovação e quais geram reprovação. Os padrões geram-se através do dar e receber entre as crianças e os adultos que cuidam delas. Contudo, e a par do comportamento, são também muito importantes as emoções, os desejos e a auto-imagem em formação. 



A partir dos 24 meses, surge a idade dos "Porquês?" À medida que se desenvolvem as suas competências linguísticas, a criança começa a exprimir-se de outras formas, que não apenas a exploração física - trata-se de juntar as competências físicas e de linguagem (por ex., quando faço isto, acontece aquilo), o que ajuda ao seu desenvolvimento cognitivo. É capaz de produzir regularmente frases de 3 e 4 palavras. A partir dos 32 meses, é já capaz de conversar com um adulto usando frases curtas e de continuar a falar sobre um assunto por um breve período. Ocorre igualmente um desenvolvimento da consciência de si: a criança pode referir-se a si própria como "eu" e pode conseguir descrever-se por frases simples, como "tenho fome". 



No seu processo de evolução, por volta dos dois anos/dois anos e meio, vai-se verificar a capacidade de criar imagens mentais (aquilo a que chamamos símbolos, ideias). Tal leva à compreensão dos conceitos - progressivamente, e com a ajuda dos adultos, vai sendo capaz de compreender conceitos como dentro e fora, cima e baixo. Por volta dos 32 meses, começa a apreender o conceito de sequências numéricas simples e de diferentes categorias (o que mais tarde lhe permitirá o contar até 10; formar grupos de objetos - 10 animais de plástico podem ser 3 vacas, 5 porcos e 2 cavalos, etc.). 



Por esta altura, as brincadeiras que implicam o fazer de conta ou a imaginação e que envolvem dramas humanos (por ex., bonecos a abraçar-se ou a lutar) ajudam a criança a aprender a relacionar uma imagem ou representação com um desejo, e depois usar essa imagem para pensar. 



Surge então a capacidade de auto-observação. Esta capacidade é fundamental para o autocontrole de atividades tão simples como pintar dentro ou fora dos riscos de um desenho, ou fazer corresponder imagens com números. A auto-observação também ajuda a estabelecer relações de empatia com os outros e a corresponder a expectativas. 



Nesta fase, a criança irá investir muito na medição das suas posses, limites (de que algumas birras são exemplo), bem como em comportamentos omnipotentes, de risco ou de oposição. Embora seja um aspecto fundamental em todo o desenvolvimento, é uma altura em que se torna maior a importância das regras e limites estabelecidas às e com as crianças. 



As birras são uma das formas mais comuns da criança chamar a atenção, e podem dever-se a mudanças ou a acontecimentos, ou ainda a uma resposta aprendida (costumam estar relacionadas com a frustração da criança e com a sua incapacidade de a comunicar de forma eficaz). 



Frequentemente, existe uma tendência dos pais em facilitar-lhes tudo, devido a uma culpabilidade inconsciente que sentem em não passarem com os seus filhos o tempo que consideram ideal, considerando-se que conter, frustrar, contrariar ou proibir pode prejudicar a criança. 



Mas, o que se verifica é que as crianças mais inseguras e com um maior sentimento de desproteção são aquelas que, desde pequenas, não lhes foram passadas regras nem limites por uma entidade protetora. 



Bases para a aprendizagem da disciplina 
A seguir ao amor, o que de mais importante podemos dar a uma criança são os limites. Toda a aprendizagem, mesmo a dos limites e da organização, começa com o carinho, a partir do qual as crianças aprendem a confiar, a sentir calor humano, intimidade, empatia e afeição pelos que a rodeiam. Os limites e a organização começam com o afeto, pois 90% da tarefa de ensinar as crianças a interiorizarem os limites baseiam-se no desejo dela de agradar ao "outro". Elas sentem este desejo por diferentes razões: porque amam as pessoas que cuidam delas e querem a sua aprovação e o seu respeito e/ ou porque têm medo. 



As crianças aprendem também a modelar as suas atitudes a partir das de quem está com elas. A moral desenvolve-se a partir da tentativa de querer ser como um adulto admirado. 



Um dos problemas associados às regras e limites fundamentalmente estabelecidos a partir do medo prende-se com a impossibilidade da figura de autoridade estar sempre junto da criança, o que faz com que, na sua ausência, a criança não sinta medo da punição. Por outro lado, o excesso de medo pode criar na criança ansiedade e inibição na maior parte das situações, chegando ao ponto de inibir formas saudáveis de expressão 



Quando a disciplina é estabelecida como uma aprendizagem e é reforçada, com muita empatia e carinho, as crianças sentem-se bem por seguirem as regras. A sensação de saber que se é "o menino dos olhos" de alguém é muito agradável. Quando essa criança sentir o olhar de desapontamento por um comportamento incorreto, vai possuir uma sensação de perda porque não recebe o olhar carinhoso de quando se porta bem. Se nunca tivesse sentido tal, não haveria sensação de perda ou de frustração que a motivasse interiormente a modificar o comportamento. 
Os castigos corporais não são uma boa alternativa à disciplina. Ela tem a ver com ensinar, não com o punir. Os castigos corporais não respeitam a criança e tendem a danificar a sua auto-imagem. Além disso, estamos a transmitir à criança a imagem de que, em determinadas situações, os problemas podem ser resolvidos através da violência. Medidas como a contenção, o isolamento, o afastamento são mais eficazes. Apesar de tudo, é necessário ver que a disciplina é uma tarefa a longo prazo. O objectivo é ensinar a criança a controlar os seus próprios impulsos. 



Ao nível da socialização, a criança aprecia a interação com adultos que lhe sejam familiares, imitando e copiando os comportamentos que observa. No entanto, vai verificando-se um aumento progressivo da autonomia: sente satisfação por estar num grupo de crianças, necessitando apenas de confirmar ocasionalmente a presença e disponibilidade do(s) adulto(s) de referência - esta necessidade aumenta em situações novas, surgindo uma maior dependência quando é necessária uma nova adaptação. 



As suas interações com as outras crianças são ainda limitadas: as suas brincadeiras decorrem sobretudo em paralelo e não em interação com elas. A partir dos 20-24 meses, e à medida que começa a ter maior consciência de si própria, física e psicologicamente, começa a alargar os seus sentimentos sobre si própria aos outros - desenvolvimento da empatia (começa a ser capaz de pensar sobre o que os outros sentem). 



Inicialmente, o leque de emoções é vasto, desde o puro prazer até à raiva frustrada. Embora a capacidade de exprimir livremente as emoções seja considerada saudável, a criança necessitará de aprender a lidar com as suas emoções e de saber que sentimentos são adequados, o que requer prática e ajuda dos adultos. 



No decorrer do terceiro ano de vida, começa a verificar-se como tema comum de brincadeira a imitação e tentativa de participar nos comportamentos dos adultos: por ex., lavar a louça, maquilhar-se, etc. 


( Psicólogo Bruno Pereira Gomes)

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