segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Má qualidade do sono afeta desenvolvimento infantil


A qualidade do sono na infância, principalmente nos três primeiros anos de vida da criança, pode influenciar na memória e na capacidade de aprendizagem, especialmente no período pré-escolar.
O sono nessa etapa tem relação direta com a consolidação de funções orgânicas fundamentais. É a fase em que o cérebro, ainda em desenvolvimento, sofre aumento de nervos e de suas redes de comunicação.
Durante o sono, ocorre ainda a secreção de hormônios como o cortisol, importante para a maturação do sistema imunológico, e o GH, responsável pelo crescimento. Noites maldormidas levam a um desarranjo geral das secreções hormonais.
Apesar de não haver estatísticas brasileiras a respeito, sabe-se que problemas neurológicos ou psicológicos correspondem a apenas uma pequena parcela entre as causas de distúrbios do sono infantil.
Segundo a neuropediatra Rosana Cardoso Alves, da divisão de neurologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e responsável pelo serviço do Laboratório do Sono do Fleury Medicina e Saúde, as desordens do sono com aumento de movimentação, sonolência ou insônia são reconhecíveis pelo pediatra, que pode conduzir a maior parte dos casos.
A indicação do exame de polissonografia e de tratamentos específicos é ocasional. “O pediatra vai investigar o histórico da criança para entender o que a família chama de insônia. Também é pedido para que os pais escrevam um ‘diário de sono’, para avaliar questões da dinâmica familiar. Há famílias sem rotina nenhuma.”
A maioria das crianças que dorme mal o faz em função de maus hábitos, aprendidos em casa e ensinados pelos pais.
“Problemas biológicos do sistema nervoso são raros. O mais comum é a criança associar o sono a fatores ligados ao despertar, como mamadas, presença da mãe, colo do pai e então perpetuar essas despertadas durante a noite”, diz o pediatra Gustavo Moreira, do Instituto do Sono da Unifesp (Universidade Federal de SP).
O pediatra relata ainda que muitos pais têm dificuldade em readequar os hábitos e, com medo de fazer o filho sofrer, cedem ao choro. “Eles acham que o médico é muito militar”, diz.
O sono debilitado da criança têm impacto direto na vida dos pais, segundo estudo realizado no Royal Children’s Hospital e na Universidade de Melbourne (Austrália), publicado neste mês. Entre dez mil famílias com filhos pequenos e em fase pré-escolar pesquisadas, 17% das crianças têm problemas para dormir, e seus pais, por conseqüência, também apresentam problemas de saúde.
Também é preciso atenção a questões emocionais. Crianças muito agitadas e ansiosas podem dormir mal por não conseguirem organizar no sono as situações vividas durante o dia. Já crianças mais quietas e fóbicas podem ter medo de ficar sozinhas e ter pesadelos. “Os pais devem conversar sobre os pesadelos. Ao quebrar a barreira do ‘falar’, o medo também é quebrado”, diz a psicanalista Miriam Debieux Rosa, professora da USP e da PUC (Pontifícia Universidade Católica).
PERGUNTAS E RESPOSTAS
1. O que é sono REM? Qual é sua importância para a criança?
Em português, significa movimento rápido dos olhos. É o estágio do sono em que regiões do cérebro utilizadas na aprendizagem e na organização da informação são estimuladas. Importante para a memória. O lactente tem 50% de sono REM. Esse número começa a cair por volta dos seis meses de idade. No adulto, 20% do sono é REM. É durante esse estágio que acontecem os sonhos.
2. É comum a criança ter pesadelo?
Entre quatro e cinco anos de idade, pesadelos são normais. Acontecem uma ou duas vezes por mês e passam com o tempo.
3. E o sonambulismo?
Em torno de 30% de crianças em idade pré escolar apresentam sonambulismo. Acontece na primeira metade da noite com a criança parcialmente desperta e dura de cinco a trinta minutos. Acontece porque o cérebro está em desenvolvimento.
4. O que é apnéia obstrutiva do sono?
É uma doença que causa pausas respiratórias durante o sono por obstrução das vias aéreas. Provoca queda da saturação de oxigênio, o que pode interferir no aprendizado e memória. O ronco pode ser um sintoma da doença. A remoção das amígdalas e adenóide (carne esponjosa do nariz) tende a resolver o problema.

(ISABELA MENA)

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