“A leitura de mundo precede a leitura da palavra, daí que a
posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura
daquele”. (Freire, 1981, p.11)
Nesta
perspectiva a alfabetização de uma criança vai além da aquisição da escrita. E
pensar que pode começar no ventre da mãe, faz sentido. Quando os pais nomeiam,
brincam com o filho, ainda na gestação,
envolvem-no no mundo da linguagem
e ele passa a ter afinidade com a atividade.
As pessoas que lidam com o
feto vão lhe proporcionando as bases estruturais para pensar e observar o mundo
a sua volta. À medida que o sujeito cresce, vai fazendo a sua própria leitura a
interpretação do mundo, aprendendo a simbolizar e a entender o sentido dos
textos e discursos de outros.
Neste processo de
linguagem, segundo Ferreiro (1995, p.38). a escola deixa de ser o primeiro
contato que a criança tem. Isso evidencia que o sujeito tem muito mais
condições e um campo de interesse maior de aprendizagem e descoberta, já que
tem contato com um grade número de
material escrito no seu cotidiano.
A tendência de Freire
(1981, p.22) centra o processo de aprendizagem no interesse do sujeito no seu
vocabulário, palavras geradoras, ou seja, as discussões das palavras servirão
para o conhecimento da realidade em que ele está inserido visando a uma
conscientização política.
Estas abordagens,
considerando o sentido amplo da palavra alfabetização, a compreensão da
linguagem é um processo que se caracteriza pela utilização de conhecimento
prévio. A cada dia, o sujeito utiliza conhecimentos anteriores e vai se
alfabetizando, buscando significados e respostas as suas curiosidades,
construindo e reconstruindo o conhecimento nesse processo que se prolonga por toda
vida e não só nos primeiros anos escolares.
A escrita e a leitura são
utilizadas com funções específicas, determinadas pelo contexto, valores e
práticas sociais, em que o sujeito, a
partir dos conhecimentos de mundo conscientiza-se da sua condição de sujeito, da prática com a linguagem, possuindo conhecimentos da linguagem efetiva e totalitária.
Nilcéa (2002) lembra que Paulo Freire
mesmo sem utilizar o termo letramento já havia avançado sobre concepções de
leitura e escrita, uma vez que o ler e o escrever, para ele, significavam não
apenas o domínio do processo de decodificação de palavras e frases, mas a possibilidade de o sujeito, consciente do
ser o produto e o produtor de cultura,
fazer uso dessas atividades (ler e escrever) para agir no e sobre o mundo.
Segundo Soares (1998, p.
39) “letramento, nos dias atuais, pode ser definido como a possibilidade de uso
dos conhecimentos e habilidades de escrita e leitura em todas as demandas pelo
grupo social numa determinada cultura”. Esta concepção vem ao encontro aos
princípios teóricos de Paulo Freire (1994).
Dessa forma, a leitura e a escrita exigem,
necessariamente, que se aborde linguagem. Certamente não há aprendizado da
leitura e da escrita sem que antes tenha havido a aquisição da língua falada. Assim justifica-se a importância da
consciência fonológica, da compreensão do que são palavras, letras, sistema
alfabético, para que então o sujeito ultrapasse o limite da simples
decodificação de símbolos escritos para a leitura de signos, significados.
Partindo do
pressuposto que a leitura e escrita são processos complementares e dependentes
para a produção significativa em ambiente escolar e fora dele, é preciso
compreender que o processamento dessas duas atividades se dá por vias
diferenciadas. A escrita inicia pelo planejamento, depois as idéias devem ser
transpostas para o papel de acordo com os princípios alfabéticos e gramaticais,
para assim construir um sentido para o leitor. Na leitura , o leitor age sobre o texto, assim
como o texto sobre o leitor. Há, então, uma interação texto e leitor conforme
Geraldi ( 1997, p.166).
Na
alfabetização, é muito comum a escrita traduzir apenas sons produzidos na
linguagem oral. O sujeito articula a junção de uma consoante e uma vogal para
formar cada segmento silábico da palavra, sem que haja nenhuma preocupação com
erros gramaticais ou ortográficos. Mas quando acontece a leitura do texto
produzido, muitos sujeitos entram em conflito, percebendo que algumas das
letras escritas nos segmentos silábicos da palavra não conferem com as suas
representações ortográficas. Isso os
fazem refletir com a ajuda de um outro sujeito (professor, pai, amigo,
etc), levantando hipóteses construindo e reconstruindo seus
conhecimentos sobre a própria linguagem.
Centrar o ensino na
produção de textos é tomar a palavra do aluno como indicador dos caminhos que
necessariamente deverão ser trilhados no aprofundamento da compreensão dos
próprios fatos sobre o qual a linguagem acontece.
A produção textual contribui nesse processo de
aprendizagem da linguagem promovendo uma interação entre o autor e leitor,
sendo que aquele se propõe a produzir, utilizando a diversidade de gêneros que
conhece e o leitor se dispõe a ler, para então aceitar, julgar, rejeitar,
recriar.
Geraldi (1997, p.137) enfatiza
que o sujeito para poder desenvolver um texto, precisa ter o que dizer. É dessa
maneira que o sujeito articula sua visão sobre o que escreve defendendo ainda o
que é preciso; ainda é necessário ter uma razão para dizer o que se tem a
dizer, pois nenhuma produção deve ser vista como uma mera tarefa cumprida ou
preenchimento de tempo; outro critério importante é ter para quem dizer,
lembrando que o professor é um leitor que pode desempenhar a função muito bem;
e ainda por final, o produtor precisa usar estratégias para dizer o que ele se
põe a dizer, o sujeito pode se constituir como locutor que se compromete com o
que diz.
A ação de se comprometer
com o que escreve faz com que o sujeito tenha uma relação interlocutiva, no
processo de ensinar e aprender, assumindo-se como locutor da relação do
conhecimento, de maneira singular na aquisição da linguagem.
(Autora: Jaqueline Medeiros)
Referências Bibliográficas::
FERREIRO. E. Reflexões
sobre alfabetização. (Tradução Horácio Gonzales (et.al) 24.ed. São Paulo
Cortez, 1995
_____.Alfabetização
em processo. (Tradução: Sara Cunha Lima, Marisa do Nascimento Paro) 11.ed.
São Paulo: Cortez, 1996
FISCHER. A. Um
processo de produção de sentidos: o texto dissertativo em uma 4ª série do
Ensino Fundamental. Tese de Mestrado, Florianópolis (SC), 2001
GERALDI. J. W. Portos de Passagem. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997
PELANDRÉ, N. L. Ensinar e aprender com Paulo Freire: 40 horas 40 anos depois. São Paulo: Cortez, 2002
SOARES. M. B. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 19988
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