quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A RELAÇÃO DO PROFESSOR COM O TEXTO





Segundo Leite (2001, p.88) “o processo de alfabetização escolar deve basear-se em usos sociais da escrita, assumindo que o eixo do referido processo é o texto (leitura e produção)”.
Porém, muitos educadores acreditam que a produção de texto seja   um problema na educação. Segundo eles, é uma atividade que os alunos interpretam como um sacrifício, por isso o envolvimento e interesse na construção de um texto é mínima. Nessa perspectiva, é uma perda de tempo a realização dessa atividade porque os alunos escrevem muito errado, não têm noção da configuração estrutural lógica de cada gênero discursivo, pontuação adequada, um tema interessante e um conteúdo coerente e coeso.
Assim um impasse se faz presente: culpar os alunos pela falta de interesse na produção escrita? Defender a posição de muitos educadores entendendo a produção escrita como um problema, não a realizando? Mais do que saber de quem é a culpa, ou então ficar defendendo posições, é preciso redimensionar as reflexões. O educador que lida com a diversidade nos ritmos de aprendizagem e os respeita, tem a tarefa de  abandonar os critérios utilizados pela escola tradicional como: selecionar, comparar, rotular, para depois garantir um ensino/aprendizagem de qualidade, é preciso respeitar e suprir paulatinamente as dificuldades encontradas na construção escrita.
A leitura e a escrita são peças fundamentais para o sucesso do processo de ensino/aprendizagem. Na alfabetização, as produções de textos devem fazer parte do processo. Mesmo que a conquista alfabética esteja num nível que ainda não garanta a possibilidade de compreender e construir textos em linguagem escrita é imprescindível o fato de se estar em contato  com o mundo letrado, já que a  construção da linguagem é já um ato de reflexão sobre a ela.
O educador observador fica atento ao que o aluno pensa e sabe, para ajustar sua proposta pedagógica as suas necessidades,  desenvolvendo, assim, a produção de texto. Dessa forma, o educador e o aluno  necessitam  ter bem claro o que é preciso para produzir um texto, conforme Geraldi (1997):  ter o que dizer, ter razão para dizer o que se tem a dizer, ter para quem dizer o que se tem a dizer; o locutor se constitua como tal, enquanto sujeito que diz para quem diz, se escolham as estratégias para realizar.
Nesse  sentido a concepção teórica do professor é definida por bases sócio-construtivistas, pois ressalta o professor atento ao que o aluno pensa e sabe, para ajustar a proposta pedagógica, lançando problemas (desafios a vencer)  adequados à suas necessidades de aprendizagem do momento. Segundo Vygotsky (1930) o professor baseado no pressuposto de que o aluno se torne sujeito do seu conhecimento, com situações de ensino favoráveis oferecidas pela escola vai atuar conscientemente em dois níveis: permitindo dominar a linguagem escrita e promovendo seu desenvolvimento intelectual, ou seja, compreendendo o processo de escrita e leitura a partir da concepção de linguagem usada pelo professor.
Já se sabe que a leitura e a escrita são importantes para a construção do conhecimento, porém “não basta saber escrever, para escrever ou saber ler, para ler”(Cagliari, 2001 p. 102). É necessário ter motivação, trabalhar a auto estima do aluno, ele deve se sentir seguro, confiante, estimulado, para ter práticas reais de um aluno letrado. 
O letramento tem presente mais do que a aprendizagem do escrever e  ler, mas um processo de aculturação de aprendizagens  das práticas sociais. O ensino da escrita preenche funções sociais de forma significativa, legitimando o uso da linguagem plenamente em todos os meios possíveis, interpretando e transformando o que se sabe, resultando numa mudança de atitude no meio. As diversidades de gêneros textuais vão permear toda esta concepção, por permitir o envolvimento dos alunos nos textos que circulam na sociedade.
No contado com toda a diversidade e riqueza de gêneros textuais o processo de alfabetização se inicia bem antes da escola. A leitura e a escrita podem acontecer ainda bem cedo, não existindo como premissa uma idade ideal para o seu aprendizado, e isso acontece porque a essas duas atividades passam a ter tanta importância para os sujeitos que não conseguem ficar sem saber,  participam de atividades de uso da escrita junto com pessoas que dominam esse conhecimento.
A leitura tem um papel fundamental no desenvolvimento da capacidade de produzir textos escritos, pois por meio dela os alunos entram contato com a complexidade escrita. Portanto, como o professor pode tornar os alunos leitores interessados e competentes? Certamente há muitas maneiras de contribuir para a construção de um aluno leitor: oferecer um acervo variado e rico em gêneros literários e não literários, manter uma rotina sistemática e freqüente de situações de leitura, o aluno perceber no professor um leitor, o professor promover dinâmicas variadas (desafios) para que a leitura aconteça, proporcionar um espaço físico agradável e prazeroso na escola, perceber a função social da leitura, desenvolver a leitura emocional em que o leitor possa viajar, construir um mascote de leitura, fazer propaganda de obras e reconhecer autores  da preferência do aluno, incentivar à pesquisa de assuntos que sejam interessantes, ajudar o aluno a se sentir participante da história através da leitura de mundo.
Nesta visão a escola deixa de ser o lugar onde se aprende a escrever como puro exercício de decodificação de sinais  e passa a ser o lugar onde o sujeito pode se revelar autor de produções escritas anunciando seu discurso autônomo, seguro, repleto de sedução e paixão pela linguagem construída.  Geraldi (1997) é imprescindível para compreender esta concepção: o aluno que tem o que dizer articula sua visão sobre o que escreve, assim como, se ele tem  razão para dizer, nenhuma produção vai ser vista como mera tarefa cumprida, e se tem para quem dizer o aluno terá que comprovar o diz na produção. Já a escolha das estratégias para motivar o aluno a produzir a escrita vai depender das informações e atitude em relação ao conhecimento que o professor proporcionar, levando em conta que a devolução da palavra ao aluno faz da estratégia um condutor do processo de ensino/aprendizagem.
A produção de texto realizada a partir da concepção de letramento abordada nesta monografia  está centrada na construção da  linguagem a qual permite diferentes usos da escrita e leitura no cotidiano. Dessa forma, produzir textos no período da alfabetização através de práticas de letramento significa ensinar o código escrito de maneira contextualizada, sendo a escrita utilizada de acordo com  práticas sociais de maneira espontânea e prazerosa.

(Autora: Jaqueline Medeiros)


Referências Bibliográficas:



CAGLIARI, L. C. Alfabetização & Lingüística. São Paulo: Scipione, 2001

FISCHER. A. Um processo de produção de sentidos: o texto dissertativo em uma 4ª série do Ensino Fundamental. Tese de Mestrado, Florianópolis (SC), 2001




LEITE, A. da S.; MOLINA, A. da S.; Alfabetização e Letramento: contribuições para as práticas pedagógicas. Campinas (SP): Komedi Arte Escrita, 2001

GERALDI. J. W. Portos de Passagem. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991

_____.  Pensamento e Linguagem. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989

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