Segundo Leite (2001, p.88)
“o processo de alfabetização escolar deve basear-se em usos sociais da escrita,
assumindo que o eixo do referido processo é o texto (leitura e produção)”.
Porém, muitos educadores
acreditam que a produção de texto seja
um problema na educação. Segundo eles, é uma atividade que os alunos
interpretam como um sacrifício, por isso o envolvimento e interesse na
construção de um texto é mínima. Nessa perspectiva, é uma perda de tempo a
realização dessa atividade porque os alunos escrevem muito errado, não têm
noção da configuração estrutural lógica de cada gênero discursivo, pontuação
adequada, um tema interessante e um conteúdo coerente e coeso.
Assim um impasse se faz
presente: culpar os alunos pela falta de interesse na produção escrita?
Defender a posição de muitos educadores entendendo a produção escrita como um
problema, não a realizando? Mais do que saber de quem é a culpa, ou então ficar
defendendo posições, é preciso redimensionar as reflexões. O educador que lida
com a diversidade nos ritmos de aprendizagem e os respeita, tem a tarefa
de abandonar os critérios utilizados
pela escola tradicional como: selecionar, comparar, rotular, para depois
garantir um ensino/aprendizagem de qualidade, é preciso respeitar e suprir
paulatinamente as dificuldades encontradas na construção escrita.
A leitura e a escrita são
peças fundamentais para o sucesso do processo de ensino/aprendizagem. Na
alfabetização, as produções de textos devem fazer parte do processo. Mesmo que
a conquista alfabética esteja num nível que ainda não garanta a possibilidade
de compreender e construir textos em linguagem escrita é imprescindível o fato
de se estar em contato com o mundo
letrado, já que a construção da
linguagem é já um ato de reflexão sobre a ela.
O educador observador fica
atento ao que o aluno pensa e sabe, para ajustar sua proposta pedagógica as
suas necessidades, desenvolvendo, assim,
a produção de texto. Dessa forma, o educador e o aluno necessitam
ter bem claro o que é preciso para produzir um texto, conforme Geraldi
(1997): ter o que dizer, ter razão para
dizer o que se tem a dizer, ter para quem dizer o que se tem a dizer; o locutor
se constitua como tal, enquanto sujeito que diz para quem diz, se escolham as
estratégias para realizar.
Nesse sentido a concepção teórica do professor é
definida por bases sócio-construtivistas, pois ressalta o professor atento ao
que o aluno pensa e sabe, para ajustar a proposta pedagógica, lançando
problemas (desafios a vencer) adequados
à suas necessidades de aprendizagem do momento. Segundo Vygotsky (1930) o
professor baseado no pressuposto de que o aluno se torne sujeito do seu
conhecimento, com situações de ensino favoráveis oferecidas pela escola vai
atuar conscientemente em dois níveis: permitindo dominar a linguagem escrita e
promovendo seu desenvolvimento intelectual, ou seja, compreendendo o processo
de escrita e leitura a partir da concepção de linguagem usada pelo professor.
Já se sabe que a leitura e
a escrita são importantes para a construção do conhecimento, porém “não basta
saber escrever, para escrever ou saber ler, para ler”(Cagliari, 2001 p. 102). É
necessário ter motivação, trabalhar a auto estima do aluno, ele deve se sentir
seguro, confiante, estimulado, para ter práticas reais de um aluno
letrado.
O letramento tem presente
mais do que a aprendizagem do escrever e
ler, mas um processo de aculturação de aprendizagens das práticas sociais. O ensino da escrita
preenche funções sociais de forma significativa, legitimando o uso da linguagem
plenamente em todos os meios possíveis, interpretando e transformando o que se
sabe, resultando numa mudança de atitude no meio. As diversidades de gêneros
textuais vão permear toda esta concepção, por permitir o envolvimento dos
alunos nos textos que circulam na sociedade.
No contado com toda a
diversidade e riqueza de gêneros textuais o processo de alfabetização se inicia
bem antes da escola. A leitura e a escrita podem acontecer ainda bem cedo, não
existindo como premissa uma idade ideal para o seu aprendizado, e isso acontece
porque a essas duas atividades passam a ter tanta importância para os sujeitos
que não conseguem ficar sem saber,
participam de atividades de uso da escrita junto com pessoas que dominam
esse conhecimento.
A leitura tem um papel
fundamental no desenvolvimento da capacidade de produzir textos escritos, pois
por meio dela os alunos entram contato com a complexidade escrita. Portanto,
como o professor pode tornar os alunos leitores interessados e competentes?
Certamente há muitas maneiras de contribuir para a construção de um aluno
leitor: oferecer um acervo variado e rico em gêneros literários e não
literários, manter uma rotina sistemática e freqüente de situações de leitura,
o aluno perceber no professor um leitor, o professor promover dinâmicas
variadas (desafios) para que a leitura aconteça, proporcionar um espaço físico
agradável e prazeroso na escola, perceber a função social da leitura,
desenvolver a leitura emocional em que o leitor possa viajar, construir um
mascote de leitura, fazer propaganda de obras e reconhecer autores da preferência do aluno, incentivar à
pesquisa de assuntos que sejam interessantes, ajudar o aluno a se sentir
participante da história através da leitura de mundo.
Nesta visão a escola deixa
de ser o lugar onde se aprende a escrever como puro exercício de decodificação
de sinais e passa a ser o lugar onde o
sujeito pode se revelar autor de produções escritas anunciando seu discurso autônomo,
seguro, repleto de sedução e paixão pela linguagem construída. Geraldi (1997) é imprescindível para
compreender esta concepção: o aluno que tem o que dizer articula sua visão
sobre o que escreve, assim como, se ele tem
razão para dizer, nenhuma produção vai ser vista como mera tarefa
cumprida, e se tem para quem dizer o aluno terá que comprovar o diz na
produção. Já a escolha das estratégias para motivar o aluno a produzir a
escrita vai depender das informações e atitude em relação ao conhecimento que o
professor proporcionar, levando em conta que a devolução da palavra ao aluno
faz da estratégia um condutor do processo de ensino/aprendizagem.
A produção de texto
realizada a partir da concepção de letramento abordada nesta monografia está centrada na construção da linguagem a qual permite diferentes usos da
escrita e leitura no cotidiano. Dessa forma, produzir textos no período da
alfabetização através de práticas de letramento significa ensinar o código
escrito de maneira contextualizada, sendo a escrita utilizada de acordo com práticas sociais de maneira espontânea e
prazerosa.
(Autora: Jaqueline Medeiros)
Referências Bibliográficas:
CAGLIARI,
L. C. Alfabetização & Lingüística. São Paulo: Scipione, 2001
FISCHER. A. Um
processo de produção de sentidos: o texto dissertativo em uma 4ª série do
Ensino Fundamental. Tese de Mestrado, Florianópolis (SC), 2001
LEITE, A. da S.; MOLINA, A. da S.; Alfabetização e Letramento:
contribuições para as práticas pedagógicas. Campinas (SP): Komedi Arte Escrita,
2001
GERALDI.
J. W. Portos de Passagem. 4.ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1997
VYGOTSKY, L. S. A
formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991
_____. Pensamento e Linguagem. 2.ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1989
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