No decorrer da história a
escrita ocupou um lugar muito estreito na prática escolar, em relação ao papel
fundamental que ela desempenha no desenvolvimento cultural do sujeito.
Ensina-se os sujeitos a desenhar letras e construir palavras com elas, mas não
se ensina a linguagem escrita, dessa forma segundo Vygotsky (1991, p.119) o
ensino da linguagem escrita depende de um treinamento artificial, a escrita
lhes é imposta de fora, vindo do professor, ao invés de se fundamentar nas
necessidades naturalmente desenvolvidas dos sujeitos e na sua própria
atividade.
Para compreender a escrita
o ponto de partida é concebê-la como um processo de apropriação de um objeto
socialmente constituído em que existem uma série de modos de representação que
precedem a representação alfabética da linguagem.
Historicamente existem três métodos de
alfabetização, conforme os estudos feitos por Ferreiro (1995, p.29), que
subsidiam a aquisição da linguagem escrita: o sintético, o analítico e o analítico-sintético.
Uma breve explicação suscitará a concepção de cada método mencionado
acima. O método sintético caracteriza-se
por unidades menores como letras, som, sílabas, e caminha em direção as
unidades maiores e significativas da palavra, frase e textos. O método
analítico tem como premissa fazer com que o alfabetizando relacione o concreto
à significação, assim o ponto de partida é sempre o todo, que pode ser um
conto, uma sentença ou palavra. O método analítico-sintético, engloba os dois
métodos anteriores, combinando os dois processos envolvidos: análise e síntese.
No entanto, o método na aquisição da
linguagem não é tudo, são apenas um conjunto de momentos e técnicas organizadas
de acordo com uma determinada lógica realizados e aplicados em determinados
momentos visando a aprendizagem dos sujeitos em
relação a escrita e leitura. Se for ponderado somente o método como forma a
desenvolver a prática pedagógica na aquisição da escrita, fica explícito o
processo como ensinagem, ou seja, o professor é o ensinante e o sujeito um mero
aprendente.
Emília Ferreiro(1991) propõe uma abordagem de deslocamento do eixo,
do como se ensina, para como a criança constrói seu conhecimento a cerca da
linguagem. “Nossa atual visão do processo é radicalmente diferente, no lugar de
uma criança que espera passivamente o reforço externo de uma resposta produzida
pouco menos que ao acaso, aparece uma criança que procura ativamente
compreender a natureza da linguagem que se fala a sua volta, e que, tratando de
compreendê-la, formula hipóteses, busca regularidades, coloca à prova suas
próprias antecipações e cria sua própria gramática. No lugar de uma criança que
recebe pouco uma linguagem inteiramente fabricada por outros, aparece uma
criança que reconstrói por si mesma a linguagem, tomando seletivamente as
informações que lhe provêm do meio.” (op.cit.,
p22) Ferreiro busca descrever o que é comum nas trajetórias individuais dos
sujeitos, durante o processo de aquisição da base alfabética da escrita.
Através da escola não é a
única maneira de conhecer e desenvolver a linguagem escrita, pois o sujeito
inicia sua alfabetização desde muito cedo no contato com o mundo letrado, não
esperando entrar na escola para se questionar e compreender a representação da
linguagem seja escrita ou oral dada as situações sociais vividas. Esta
concepção vem ao encontro aos princípios teóricos de Paulo Freire em relação a
alfabetização, ou seja, os conhecimentos de mundo dos sujeitos os
conscientizarão da sua condição e sua
prática na construção de novos conhecimentos e ao desenvolvimento de novas
estruturas de pensamento e linguagem.
As
experiências vividas pelos sujeitos e as inter-relações pessoais são
fundamentais ao processo de aquisição da linguagem. Na medida que, o sujeito
desenvolve a linguagem facilita a interação comunicativa, compreendendo melhor
a linguagem como um sistema de representações convencionadas.
Neste processo de
aquisição da escrita o texto aparece como um estímulo que proporciona aos
sujeitos um melhor desempenho lingüístico, de forma a participar e refletir
sobre a linguagem escrita. Escrevendo textos o sujeito ressalta sua visão do
mundo, produz sentidos e comunica aos outros o que pensa e sente.
A prática de produção de
texto a partir da diversidade de gêneros é uma maneira de considerar a
existência de diferentes formas de manifestação da linguagem. Para Bakhtin
(1929, p.131) “a palavra é enunciação, e como esta é de natureza social, sua
significação é inseparável da situação concreta em que realiza”.
No entanto a produção escrita
precisa de uma certa organização para ser produzida: o planejamento, a
estruturação ou linearização, a execução e a monitoria, que podem acontecer
simultaneamente, quem vai dar essa organização é o escritor, na sua
singularidade pressupõe decisões sobre o que e como escrever, por onde começar,
em que direção seguir, que pontos ressaltar e como terminar o texto. Isso faz
da escrita uma produção de sentidos, expondo particularidades, indícios sobre a
relação sujeito/linguagem.
Através do processo de escrita de textos o sujeito transforma-se, produz e
reproduz a partir da sua experiência, constrói e reconstrói seu conhecimento em
relação a linguagem e compromete-se com que escreve numa relação interacionista
dialógica.
A presença de textos quer
como objeto de leitura ou como produção no trabalho com linguagem na escola tem
se caracterizado cada vez mais. Porém, para que a presença do texto na escola
seja legitimada, ela não deve ser autoritária. Eleger textos para a aula, em
leitura obrigatória feitas por indicações do professor até podem oportunizar um
diálogo de sentido enfático de fala conjunta, no entanto como Geraldi (1997, p.
170) lembra “produz-se um discurso de sala de aula que, como a pergunta
didática, faz do texto um meio de estimular operações mentais e não um meio de,
operando mentalmente, produzir conhecimentos”.
Neste enfoque, buscar a
legitimidade no uso dos textos na escola, é necessário, percebendo a leitura
integrada ao processo de produção de textos. Através da leitura na interação leitor/texto
faz-se uma construção de sentidos dos textos. Pois, o leitor pode ir ao texto
em busca de uma resposta à uma pergunta
que tem, assim como, pode ir ao texto para retirar dele tudo que lhe
possa oferecer, outrora pode ir ao
texto nem para escutá-lo, nem para
perguntar-lhe, mas para usá-lo na produção de outros textos, e ainda o leitor
pode ir ao texto sem perguntas prévias, sem querer recolher a sua vontade de
escuta e até mesmo sem pretendê-lo usá-lo, no entanto se construir na interação
com o texto numa relação dialética.
Citelli (2001, p.173) enfatiza a
necessidade de que o processo de construção de textos na sala de aula deve
estar em passos muito bem definidos pelo professor, para que a prática de
produção textual, não seja apenas uma sugestão aleatória, descontextualizada
para o sujeito. Ela apresenta uma perspectiva em que a produção de texto deve
estar ligada a uma seqüência planejada de atividades, com objetivos definidos
que demandam escritas e reescritas, idas e vindas, leituras e outras leituras,
além de uma avaliação do que foi produzido.
O real
sentido em trabalhar com textos na escola, seja em produções ou leitura, está
em refletir as relações sociais dos
sujeitos escritor/leitor, suas experiências e motivações individuais que foram dialogicamente
construídas. Rojo (2001, p.65) fundamentada na teoria bakhtiniana e nos
PCNs faz uma reflexão sobre a
importância do professor ser aquele que
além de ensinar conteúdos, é alguém que transmite o valor que a língua tem, demonstrando o valor que a língua
tem para si. Dessa maneira se o professor tem uma relação prazerosa com a leitura
e a escrita, certamente poderá funcionar como um mediador para seus alunos.
Conforme
forem os estímulos e experiências na aprendizagem e desenvolvimento da linguagem
na escola o aluno se sentirá mais ou menos envolvido nos eventos particulares
da sua micro-história individual. Segundo Abaurre (1997, p.22) “a aquisição de
escrita é um momento particular de um processo mais geral da linguagem”. Assim,
a escola precisa oportunizar um contato
maior com textos, pois estes podem revelar particularidades sobre a relação sujeito/linguagem do aluno.
(Autora: Jaqueline Medeiros)
Referências Bibliográficas:
ABAURRE, M. B. M. Cenas de aquisição da escrita: o sujeito e o trabalho com texto.
Campinas (SP): Mercado das Letras, 1997.
BAKHTIN,
M. Marxismo e filosofia da linguagem. São
Paulo: Hucitec, 1986
CITELLI, B. Produção
e Leitura de textos no Ensino Fundamental: poema, narrativa, argumentação.
São Paulo: Cortez 2000
FERREIRO. E. Reflexões
sobre alfabetização. (Tradução Horácio Gonzales (et.al) 24.ed. São Paulo
Cortez, 1995
FISCHER. A. Um
processo de produção de sentidos: o texto dissertativo em uma 4ª série do
Ensino Fundamental. Tese de Mestrado, Florianópolis (SC), 2001
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: 1ª a 4ª série –
Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, v.2, 1997. 144p.
VYGOTSKY, L. S. A
formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991
_____. Pensamento e Linguagem. 2.ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1989
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