quarta-feira, 19 de outubro de 2011

ALFABETIZAR LETRANDO: UMA PERSPECTIVA NO PROCESSO DE ENSINAR E APRENDER.





“A leitura de mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele”. (Freire, 1981, p.11)
         Nesta perspectiva a alfabetização de uma criança vai além da aquisição da escrita. E pensar que pode começar no ventre da mãe, faz sentido. Quando os pais nomeiam, brincam com o filho, ainda na gestação,  envolvem-no no mundo  da linguagem e ele passa a ter afinidade com a atividade.
As pessoas que lidam com o feto vão lhe proporcionando as bases estruturais para pensar e observar o mundo a sua volta. À medida que o sujeito cresce, vai fazendo a sua própria leitura a interpretação do mundo, aprendendo a simbolizar e a entender o sentido dos textos e discursos de outros.
Neste processo de linguagem, segundo Ferreiro (1995, p.38). a escola deixa de ser o primeiro contato que a criança tem. Isso evidencia que o sujeito tem muito mais condições e um campo de interesse maior de aprendizagem e descoberta, já que tem contato com um grade número de  material escrito no seu cotidiano.
A tendência de Freire (1981, p.22) centra o processo de aprendizagem no interesse do sujeito no seu vocabulário, palavras geradoras, ou seja, as discussões das palavras servirão para o conhecimento da realidade em que ele está inserido visando a uma conscientização política.
Estas abordagens, considerando o sentido amplo da palavra alfabetização, a compreensão da linguagem é um processo que se caracteriza pela utilização de conhecimento prévio. A cada dia, o sujeito utiliza conhecimentos anteriores e vai se alfabetizando, buscando significados e respostas as suas curiosidades, construindo e reconstruindo o conhecimento nesse processo que se prolonga por toda vida e não só nos primeiros anos escolares.
A escrita e a leitura são utilizadas com funções específicas, determinadas pelo contexto, valores e práticas sociais, em que  o sujeito, a partir dos conhecimentos de mundo  conscientiza-se  da sua condição de sujeito, da  prática com a linguagem, possuindo   conhecimentos  da linguagem efetiva e totalitária.
Nilcéa (2002) lembra que Paulo Freire mesmo sem utilizar o termo letramento já havia avançado sobre concepções de leitura e escrita, uma vez que o ler e o escrever, para ele, significavam não apenas o domínio do processo de decodificação de palavras e frases, mas  a possibilidade de o sujeito, consciente do ser o  produto e o produtor de cultura, fazer uso dessas atividades (ler e escrever) para agir no e sobre o mundo.
Segundo Soares (1998, p. 39) “letramento, nos dias atuais, pode ser definido como a possibilidade de uso dos conhecimentos e habilidades de escrita e leitura em todas as demandas pelo grupo social numa determinada cultura”. Esta concepção vem ao encontro aos princípios teóricos de Paulo Freire (1994).
Dessa forma, a leitura e a escrita exigem, necessariamente, que se aborde linguagem. Certamente não há aprendizado da leitura e da escrita sem que antes tenha havido a aquisição da língua falada.  Assim justifica-se a importância da consciência fonológica, da compreensão do que são palavras, letras, sistema alfabético, para que então o sujeito ultrapasse o limite da simples decodificação de símbolos escritos para a leitura de signos, significados.
Partindo do pressuposto que a leitura e escrita são processos complementares e dependentes para a produção significativa em ambiente escolar e fora dele, é preciso compreender que o processamento dessas duas atividades se dá por vias diferenciadas. A escrita inicia pelo planejamento, depois as idéias devem ser transpostas para o papel de acordo com os princípios alfabéticos e gramaticais, para assim construir um sentido para o leitor. Na  leitura , o leitor age sobre o texto, assim como o texto sobre o leitor. Há, então, uma interação texto e leitor conforme Geraldi ( 1997, p.166).
Na alfabetização, é muito comum a escrita traduzir apenas sons produzidos na linguagem oral. O sujeito articula a junção de uma consoante e uma vogal para formar cada segmento silábico da palavra, sem que haja nenhuma preocupação com erros gramaticais ou ortográficos. Mas quando acontece a leitura do texto produzido, muitos sujeitos entram em conflito, percebendo que algumas das letras escritas nos segmentos silábicos da palavra não conferem com as suas representações ortográficas.  Isso os fazem refletir com a ajuda de um outro sujeito (professor, pai, amigo, etc),  levantando hipóteses  construindo e reconstruindo seus conhecimentos sobre a própria linguagem.
Centrar o ensino na produção de textos é tomar a palavra do aluno como indicador dos caminhos que necessariamente deverão ser trilhados no aprofundamento da compreensão dos próprios fatos sobre o qual a linguagem acontece.
A produção textual contribui nesse processo de aprendizagem da linguagem promovendo uma interação entre o autor e leitor, sendo que aquele se propõe a produzir, utilizando a diversidade de gêneros que conhece e o leitor se dispõe a ler, para então aceitar, julgar, rejeitar, recriar.
Geraldi (1997, p.137) enfatiza que o sujeito para poder desenvolver um texto, precisa ter o que dizer. É dessa maneira que o sujeito articula sua visão sobre o que escreve defendendo ainda o que é preciso; ainda é necessário ter uma razão para dizer o que se tem a dizer, pois nenhuma produção deve ser vista como uma mera tarefa cumprida ou preenchimento de tempo; outro critério importante é ter para quem dizer, lembrando que o professor é um leitor que pode desempenhar a função muito bem; e ainda por final, o produtor precisa usar estratégias para dizer o que ele se põe a dizer, o sujeito pode se constituir como locutor que se compromete com o que diz.
A ação de se comprometer com o que escreve faz com que o sujeito tenha uma relação interlocutiva, no processo de ensinar e aprender, assumindo-se como locutor da relação do conhecimento, de maneira singular na aquisição da linguagem.

(Autora: Jaqueline Medeiros)

Referências Bibliográficas:: 



FERREIRO. E. Reflexões sobre alfabetização. (Tradução Horácio Gonzales (et.al) 24.ed. São Paulo Cortez, 1995



_____.Alfabetização em processo. (Tradução: Sara Cunha Lima, Marisa do Nascimento Paro) 11.ed. São Paulo: Cortez, 1996


FISCHER. A. Um processo de produção de sentidos: o texto dissertativo em uma 4ª série do Ensino Fundamental. Tese de Mestrado, Florianópolis (SC), 2001



GERALDI. J. W. Portos de Passagem. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997


PELANDRÉ, N. L. Ensinar e aprender com Paulo Freire: 40 horas 40 anos depois. São Paulo: Cortez, 2002


SOARES. M. B. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 19988


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